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Terça-feira, 23 de Janeiro de 2007
Em dias assim
EM DIAS ASSIM
por Luís Romero
17/Out/2000

Colocaste a chave na porta, mas paraste. Ouviste do lado de fora o silêncio que reinava na casa. Só então deste as quatro voltas na fechadura e entraste. A opção de estares sozinho foi tua. Recusaste dois convites para jantar e adiaste o telefonema que querias fazer para o dia seguinte. Esta noite era tua. Totalmente tua.

A visão da casa trouxe-te um sentimento de conforto que não esperavas – só há muito pouco tempo te sentias em casa, foi-te difícil a adaptação a viveres sozinho. Passaram-te pela mente ideias de limpar a casa, de arrumar isto e aquilo que estava por organizar há meses. “Mas não, hoje não! Hoje farei o que me apetecer, e isso, definitivamente, não!!!”.
Abriste a cerveja (preta) e acendeste um cigarro. De janela aberta, e após um rápido cumprimento à planta que te servia de companhia desde há pouco tempo, passeaste o olhar nas águas calmas do rio. “Por muito que digam sobre o primeiro cigarro do dia, este é de facto o que me satisfaz mais”.

A sala inundava-se com um quente saxofone. Sentias aquele som como uma massagem de final de dia (era Morphine, pois claro...). “São incríveis os truques que criei para substituir coisas que tinha quando vivia com ela...”. Estás orgulhoso com tudo o que aprendeste. Ou melhor, tiveste que aprender. (“E daí, não vai dar ao mesmo??).

Parabéns! Finalmente, tentas que a tua felicidade dependa apenas de ti, e não a colocas nas mãos de outra pessoa. Sabes, o teu amigo tinha razão quando dizia que, apesar de seres uma excelente companhia para viver (graças à tua brilhante capacidade para tornar cada dia único), cobravas isso demasiado caro. Mas já começas a perceber que é bom seres uma boa companhia para ti próprio. Ainda eras (e és!) demasiado novo para pensares que é o fim do mundo não estares com alguém. Que raio de ideias!!! Até prezo a tua inteligência, mas por vezes és um parvo com o teu fatalismo!

A última passa no cigarro faz-te sorrir... nada a ver com o fumo, apenas te recordaste de ti próprio há poucos meses atrás. Estás sozinho esta tarde por opção; não faltaram convites para sair, ou para te encontrarem. E decerto que bastariam dois ou três telefonemas para falares com mais alguém. Mas não; escolheste a tua própria companhia. Outra época houve, em que também sabias ser possível arranjares facilmente companhia; mas bloqueavas-te, desistias por achares que essa não seria a companhia que querias. Ou seja, querias à força ter alguém que amasses, que te amasse, que fosse igual a ela, talvez... e nem te lembravas do quão infeliz te sentias nessas alturas, por teres tudo isso e exigires as coisas mais absurdas. Ainda não tens a certeza se demoraste ou não demasiado tempo a apreender o absurdo dessas exigências e pressões, mas (e mais uma vez parabéns!) aprendeste finalmente a lidar melhor com as faltas de certezas.

Decides pegar na guitarra. E acender outro cigarro.

Tocas em jeito de banda sonora, enquanto visualizas os últimos meses na tua vida.
Foram duros, sim, mas fartaste-te de aprender coisas novas. Sabes já que o sorriso te faz bem (“e fica-te bem, pá, até que és um tipo engraçado!”), e que és tu que dominas se tens ou não um sorriso nos lábios.

(Obrigado, Telmo! Obrigado, Ana! Obrigado, Sónia! Obrigado, Rui! Obrigado, Pedro! Obrigado, Miguel! Obrigado, Lídia! Obrigado.....)

Os teus dedos e a tua voz pedem-te para tocar aquela música, o Walk Away do Ben Harper... pois, essa é por vezes a verdade, por mais dura que possa parecer.
Jantas rapidamente, e aproveitas para tentar ver alguma coisa na televisão, mas três notícias consecutivas de desgraças levam-te a ligar a aparelhagem. Escolhes Morcheeba para te fazer companhia.

Recordas agora alguns dos bons momentos que passaste nesta casa. O primeiro dia em que acordaste com o nascer do Sol; o amanhecer que presenciaste a ouvir os U2; um certo pôr-do-sol em que te ofereceste uma cerveja e uma canção.

Vês agora como perdeste a cabeça antes, tantas vezes. Sim, vejo que sofreste algo de forma muito dura, foi muito difícil o afastamento que te viste obrigado a fazer. E custou muito teres de alterar tanta coisa na tua vida ao te veres só, apenas com a tua dor por companhia (e felizmente, um belíssimo grupo de amigos).

Mas olha, valeu a pena! É passado, e não será isso que te vai condicionar a viver o presente (“Estás a ver como tu sabes?”). Hoje, aqui. Com a música a tocar-te o coração. Com as lágrimas guardadas (as que são para guardar). Com os sorrisos a oferecerem-se, a ti e a quem te rodeia.

 Tocam à porta.

“Que estranho! E é cá em cima?!”.

Atendes.

Que surpresa!

É ela!

Não esperavas!!!

Mas é uma boa surpresa! (“É, não é?”)

Que engraçado: sentias tanta vontade de estar sozinho, e fizeste tudo por isso; mas agora mal consegues conter a felicidade de a teres contigo.

Não esperavas sentir agora tudo isso... e até parecias ter esquecido da beleza e do prazer dessa sensação.

Surpreendes-te a ti próprio com as boas vibrações que te invadem.

(Pois é, parabéns de novo! Afinal, ainda és capaz de amar!!)

Tantas emoções que passaram entretanto, tantas pessoas, tantas situações que não esperavas nunca viver... mas quando te toca a beleza do sentimento que agora te preenche, vês que tudo valeu a pena. Mesmo o sofrimento. Mesmo a dor. Mesmo o vazio. Mesmo a solidão. Mesmo a tristeza.

Valeu a pena, principalmente pelo sorriso que te enfeita a face e te inunda a alma. Que bom sorrir assim! E que bom vê-la sorrir assim! Não a esperavas hoje, ou aliás, não a esperavas. Ponto final.

Que bons são estes semi-acasos!!!

“Posso entrar?”
publicado por ladoc às 23:59
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De David a 24 de Janeiro de 2007 às 11:02
Talvez seja impressão mas pela tua descrição do espaço (físico), quase que via o teu apartamento à beira do rio, em Lisboa :)
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De
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