Terça-feira, 28 de Novembro de 2006
Só isto
Segunda-feira, 20 de Novembro de 2006
Violent Femmes - ao vivo no Razzmatazz, 19/11/2006
À chegada ao espaço do concerto, o número de pessoas a oferecer-se para comprar bilhetes revelou o que eu já esperava: o concerto estava esgotadíssimo, e esta é uma banda de culto para muita gente. Não estranhei, portanto, que a sala estivesse repleta de gente de todas as idades.
Depois duma actuação que achei particularmente aborrecida por parte dos Arab Strap, sobem a palco os Violent Femmes.
Com uma abertura em grande, logo com o sucesso "Blister in the sun" em segundo lugar na lista, a banda apresentou-se com uma riqueza sonora impressionante.
Os sucessos desfilaram, evidenciando as inúmeras referências da música dos Violent Femmes (que vão desde o blues ao punk, passando pelo country e folk) e a sua originalidade inegável.
Victor DeLorenzo é eléctrico e extremamente inteligente na utilização do seu reduzido kit (o equipamento que ele utiliza é o que está visível na foto mais acima). Saltava, brincava, sem nunca perder a sua mestria na utilização de vassouras, e criando ritmos extremamente intensos. Não esquecer também os preciosos coros que dispensou, e que muito ajudam a enriquecer a musicalidade da banda.
Brian Ritchie é quem comunica com o público. Começando com um baixo acústico, mas passando a sua performance por um baixo eléctrico, alguns instrumentos de sopro simples, um pífaro, um xilofone e aquilo a que literalmente se poderia chamar um pau com cordas (soava a um baixo, mas nunca tinha visto um assim), era ele que se encarregava dos solos da banda.
Gordon Gano é extremamente discreto e competente, e surpreendeu-me a tocar violino, pois não sabia que o fazia. A sua voz peculiar tratou do resto.
John Sparrow é duma discrição absoluta, mas complementou na perfeição a parte percussiva da música, elemento essencial dada a formação peculiar que apresentam.
O momento do concerto foi sem dúvida "Jesus walking on the water", com 9 elementos em palco (banjo, bandolin, dois washboards e um saxofone a cargo de Dick Parry, o saxofonista que tocou no álbum "Dark side of the moon" dos Pink Floyd), com uma riqueza rítmica com raízes no bluegrass americano e que colocou em êxtase o público.
Outra prestação importante foi "I held her in my arms", uma das minhas favoritas da banda. As vocalizações estavam perfeitas, o som e as luzes em condições excelentes, a revelar que a longa estrada que esta banda percorre em concertos é bem visível no entrosamento dos músicos.
Depois, tantos outros temas brilhantes foram apresentados: "Gone daddy gone", "American music", "Add it up"...
Em suma, e uma vez que a banda se prepara para três datas em Portugal, diria que é um concerto a não perder. Era uma banda que nunca tinha visto e que sempre tinha recebido boas indicações da sua prestação ao vivo; e hoje pude confirmar tudo isso e muito mais.
Para quem queira conhecer a banda, sugiro a compilação "Add it up", que apresenta uma excelente selecção de temas.
Sexta-feira, 17 de Novembro de 2006
Jeff Buckley - 40.º aniversário
Hoje, Jeff Buckley completaria 40 anos se ainda estivesse vivo. Como forma de homenagem, fiz esta versão do tema Jewel Box. Divirtam-se!
http://www.sendspace.com/file/n6z3si
Segunda-feira, 13 de Novembro de 2006
O mais recente teledisco de Tom Waits, "Lie to Me"
Sábado, 11 de Novembro de 2006
Mercados
A Boqueria é um destino tradicional para a maior parte dos turistas em Barcelona. Por alguma razão, a visão de frutos alinhados e de prateleiras construídas com feijão-verde parece atrair as gentes, que se limitam a comprar depois um sumo ou uma salada de frutas (uma dica: quanto mais longe da porta, mais baratos se tornam estes produtos; e estou a falar de diferenças que podem ir até metade do preço).
Este mercado, no entanto, constitui para mim uma espécie de Ramblas; onde toda a gente
de fora vai, mas onde os residentes quase não têm paciência de passar.
Assim, o mercado de Sant Antoni, dada a proximidade de casa, é o meu destino de eleição para comprar carne de melhor qualidade, fruta ou apenas espreitar as diversas bancas. Em primeiro lugar, a língua franca é o catalão, o que torna as coisas bem mais divertidas. Depois, é mais interessante ver a quantidade de produtos que se vendem aqui e que em Portugal não existem sequer: cogumelos de imensas variedades, anchovas, peixe seco, etc. Finalmente, a forma de comércio é claramente diferente: não se ouvem pregões; a maior parte dos talhos não vendem aves ou coelho (para isso existem as pollerias); a gama de produtos numa só banca de enchidos daria para se assemelhar à de um pequeno supermercado.
Por último, não queria deixar de referir a imensa febre dos carrinhos de compras que por aqui grassa: todos têm um daqueles carrinhos com rodas, que levam para todo o lado, e até tem honras de estacionamento nas entradas dos supermercados, com uma espécie de trela. São coisas feias, mas práticas – bem ao estilo catalão, portanto.
Nota: Não esquecer que aos domingos o interior do mercado de St. Antoni está encerrado, mas ao seu redor abre-se um autêntico mercado de raridades: revistas de banda desenhada, jogos de computador, cartas de Magic, cartazes de cinema, posters de música, vinis antigos... uma panóplia digna da Feira da Ladra, sem t5antas partes chatas de antiguidades.
Fotografia em palavras (porque estas valem mais que mil imagens)
Já no outro dia, quando jantei numa esplanada na Ronda de Sant Antoni, assisti ao lançamento de ovos e sacos com água (suponho eu que era água...) para as prostitutas que passavam pela rua. Aquela zona sempre foi um foco de prostituição, que se mistura com os inúmeros passantes e clientes das inúmeras lojas de informática, telemóveis, jogos de computador e outras tecnologias que não substituem o trabalho destas meninas provenientes na sua maioria de países do Leste Europeu. Após uma reacção legal, em que os Mossos de Esquadra passaram a poder multar as prostitutas caso se assistisse à sua oferta de serviços, a situação agora acalmou, mas os vizinhos estão a movimentar-se para terminar com a tradição, exibindo cartazes nas suas varandas a dizerem "Putes No" (é catalão, mas suponho que não é preciso traduzir).
Hoje pela manhã, era visível a quantidade de sacos rebentados pelo chão e as manchas dos ovos lançados, ainda que a equipa de limpeza do Ayuntamiento já tivesse tratado de uma boa parte da Ronda.
Apesar do braço de ferro que parece estar instalado, não acredito que se acabe com a prostituição naquela zona. Nunca acreditei que se acabasse com esta actividade por decreto; ainda menos acredito que se acabe com ela por lançamento de objectos. A ver vamos.
Quinta-feira, 9 de Novembro de 2006
Monica Bellucci - Ensaio GQ
Há muito tempo que uma fotografia não me "perturbava" tanto.
Sexta-feira, 3 de Novembro de 2006
Entrevista de La Contra – Mohamed Yunus
Retirei esta entrevista dum livro publicado com as melhores entrevistas que surgiram na rubrica "La Contra", que são contracapa do jornal "La Vanguardia" desde 1998. Coincide exactamente com a recente nomeação de Mohamed Yunus para o Nobel da Paz deste ano. A entrevista data de Julho de 2000.
Mohamed Yunus, inventor do modelo de microcrédito para combater o subdesenvolvimento“A burocracia é o inimigo dos pobres”Em Yunus, é possível palpar-se a bondade. Yunus é uma pessoa boa porque é inteligente. Economista reputado, poderia hoje estar a gozar da sua pensão de reforma como professor num campus de relvado imaculado ou poderia usufruir dum qualquer cargo no seu país. Hoje não seria candidato a Nobel da Paz, mas isso é para ele menos importante – e nota-se bem – do que continuar a trabalhar com o povo. É feliz e transmite-o com boas vibrações, sorrisos e uma fé escandalosa nas pessoas. Yunus, nascido num país de “santos”, desconfia de estados, burocracias, religiões e castas. Confirma no terreno aquilo que sempre tínhamos suspeitado: todas essas reuniões de estadistas e bancos mundiais e fundos monetários são de uma inoperância espantosa e culposa. Conta em detalhe como os gestos afectados dos nossos “patrões” não servem mais que as suas vaidades e aos bolsos sujos dos quatro ricos de cada país pobre. A grande mudança está nas coisas muito pequenas, e Yunus mudou a miséria de milhares de compatriotas porque acredita nas coisas pequenas e nas pessoas anónimas e compreende-as. Por isso, fechou dois milhões e meio de contratos sem papéis, advogados ou polícias, mas com um sorriso e um aperto de mão. Depois de uns momentos de conversa com ele, sentes-te um pouco menos miserável.Lluís AmiguetTenho sessenta anos. Nasci em Chitagoon, Bangladesh: 130 milhões de habitantes. A população, se puder desenvolver a sua criatividade, não é o problema, é a solução. Fundei o Grameen Bank, que concedeu já 2,5 milhões de microcréditos aos pobres. Colabora com a Fundação “la Caixa” (Espanha) potenciando o microcrédito no Terceiro Mundo.
– Você é o único banqueiro sorridente de que me lembro…– É que tenho muitos benefícios!
(Nota: comentário não traduzível, pois refere-se não só a juros – beneficios em espanhol – mas também a benefícios de outro género)– Duvido: você só empresta dinheiro aos pobres.– (risos) Por isso sorrio! Dois milhões e quatrocentas famílias do Bangladesh pagam-me com o seu dinheiro, mas também com sorrisos: saíram da miséria com o seu esforço e um microempréstimo do nosso Grameen Bank.
– Mas pagam a dívida?– Até ao último cêntimo. Somente nos falha dois por cento. E quero dizer que o Grameen Bank é um negócio. Nada de caridade! Nem de subsídios do Estado! Esse dinheiro é nosso e emprestamo-lo aos pobres porque é rentável e são bons clientes.
– A banca sempre defendeu o contrário.– Por mediocridade. Tratar os pobres como incapazes não é apenas imoral, é sobretudo uma estupidez financeira.
– Muito comum.– Porque se culpabiliza o pobre da sua pobreza.
– “Se são pobres, será por algo…”– Exacto: “não te fies neles, estão desocupados”, mas nós temos vindo a demonstrar dois milhões e meio de vezes que eram pobres apenas porque sofriam uma estrutura que os fazia pobres. Se se lhes dá a oportunidade, aproveitam-na.
– Como descobriu isso?– Lidando com eles. Eu sou filho dum joalheiro duma família de classe média-baixa de Chitagoon. Consegui uma bolsa e fui para a Vanderbilt University estudar Economia.
– Porque não ficou nessa elegante universidade americana?– Fui professos ali até à terrível guerra da independência do meu país em 1970, em que lutámos com os paquistaneses. Houve dois milhões de mortos. E eu a falar de macroeconomia no Tennessee!
– A guerra não era por sua culpa.– Voltei para ajudar o meu povo e acabei a leccionar economia em Bangladesh, enquanto milhões de compatriotas agonizavam literalmente de inanição nas ruas. E eu via-os todos os dias, quando saía das aulas! Ver um ser humano a morrer de fome é algo que nunca mais se esquece.
– O que fez?– Desesperei. Para que serviam todas aquelas teorias elegantes que eu ensinava a estudantes bem alimentados? Um dia fui a uma povoação perto da universidade e comecei a perguntar. Todos trabalhavam como loucos para devolver créditos contraídos a usurários com taxas de juro que eram autênticas extorsões. Quis fazer uma experiência microeconómica.
– Dar-lhes dinheiro?– Isso é um erro. Escolhi 45 pessoas e emprestei-lhes do meu bolso 45 microcréditos.
– De que valor?– Tal como faço agora: de cinco dólares, dez, trinta, até trezentos.
– Cinco euros de empréstimo?– Sim. Parecem quantidades ridículas, mas com o preço dum jantar aqui você muda a vida de uma família de lá.
– Parece difícil.– É fácil: com menos de 10 euros compram uma vaca, com a vaca devolvem o crédito e a três anos podem comprar outra e viver da venda do leite. Todos os nossos micronegócios são assim.
– E criam empresários?– Empresárias. Uma das chaves do nosso sucesso é que concedemos crédito a mulheres.
– Porquê?– São mais fiáveis, optimizam o investimento e planificam. Agora estamos a convertê-las em empresárias telefonistas, uma em cada povoação. Damos-lhes crédito para comprar um telemóvel. Como a empresa telefónica estatal é inoperante e corrupta, o nosso negócio avança.
– O seu feminismo não deve agradar aos mullahs.– O integrismo religioso é o nosso pior inimigo e temos sofrido atentados, mas vencê-los-á o nosso senso comum.
– O Estado ajuda o seu banco?– Não creio no Estado: estou convencido de que no futuro os cidadãos poderão reduzi-lo ao mínimo e funcionar sem ele. O inimigo dos pobres é a burocracia e o establishment.
– Mas o Governo não os ajuda?– Ficaria conformado com que não nos boicotassem. De momento, a administração está na dúvida entre a ignorância e o desprezo para connosco.
– Porquê?– Os burocratas preferem os créditos gigantescos de ajuda ao desenvolvimento do FMI, do Banco Mundial, dos países ricos. Com eles, conseguem as viagens, as comissões, as corrupções… Só uma ínfima parte desses grandes empréstimos que tanto se alardeiam chegam a melhorar as condições de vida dos cidadãos.
– Não gostaria de mandar?– Ninguém é generoso apenas porque sim. Eu não o era. Tornei-me generoso com o tempo por egoísmo, quando vi como me sentia bem com os sorrisos de agradecimento.
– Qual foi o microcrédito mais importante que já concedeu?– Consegui que uma mendiga aceitasse, porque se recusava ao início, apenas meio dólar. Obriguei-a a aceitar um dólar e meio e comprou quinquilharia para vender pelas casas.
– Não se fez rica assim.– Encontrei-a meses depois e perguntei-lhe pelo negócio. Não me falou de dinheiro. Explicou-me que tocou à porta duma das casas onde costumava mendigar. Disseram-lhe para voltar noutro dia. Ela insistiu; tinha coisas para vender. Abriram-lhe a porta. “Sr. Yunus – disse-me – mostrei-lhes as minhas peças de pouco valor e pela primeira vez na minha vida convidaram-me a sentar numa casa”.
Estado de espírito
Estou além
Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde
Não sei do que é que eu fujo
Será desta solidão?
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão?
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só quero quem, quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem, quem não conheci
Porque eu só quero quem, quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem, quem não conheci
Porque eu só quero quem, quem eu nunca vi
Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
A vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar a procurar
O meu mundo, o meu lugar
Porque até aqui eu só estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir aonde eu não vou
Porque eu só estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir aonde eu não vou
Porque eu só estou bem aonde não estou
(...)
Vou continuar a procurar
A minha forma, o meu lugar
Porque até aqui eu só estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir aonde eu não vou
Porque eu só estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir aonde eu não vou
Porque eu só estou bem aonde não estou
(...)